O coordenador do curso de administração do Centro Universitário da FEI explica como usar mapa conceitual como metodologia ativa de aprendizagem para intensificar a formação por competências

por Luciene Leszczynski | fotos Gustavo Morita

p23-_MOR2991Ao dar início a um novo plano pedagógico, no começo de 2014, a coordenação do curso de administração do Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo, decidiu implementar no seu currículo a formação por competência. Para isso foi buscar novas metodologias ativas de aprendizagem e estabeleceu o uso do mapa conceitual como método base e integrador de todas disciplinas e ciclos.

A experiência foi apresentada pelo coor­denador do curso de administração da Fei, Hong Ching, durante o XXV Encontro Na­cional dos Cursos de Graduação em Administração (Enangrad), ocorrido em novembro em Belo Horizonte (MG), cujo tema versou sobre as novas propostas pedagógicas e seu impacto na avaliação dos cursos de administração. De acordo com Ching, a ideia do uso de mapa conceitual num curso de ensino superior é justamente elevar o patamar das avaliações de alunos e do curso por meio do oferecimento de uma melhor formação.

Criado na década de 1970 pelo pesquisador norte-americano Joseph Novak, o mapa conceitual se sustenta na teoria da aprendizagem significativa, a qual estabelece uma melhor fixação dos conteúdos mediante a associação com conceitos já conhecidos. O resultado é uma representação gráfica de um conjunto de conceitos que se interligam e se inter-relacionam. “A vantagem para o aluno é que ele captura tudo o que o professor falou e organiza da forma que foi compreendido e não do ponto de vista de decoreba, mas sim ele precisa desenvolver isso numa sequência lógica”, considera Ching, que explica na entrevista a seguir como se deu o processo de implantação da nova metodologia e os resultados esperados ao longo do tempo.

Ensino Superior: Por que vocês decidiram adotar a nova metodologia?
Hong Ching: Foi quando, na realização do novo plano pedagógico do curso de administração, discutimos a adoção de um currículo baseado no aprendizado por competência, que normalmente é diferente de outras escolas, onde as disciplinas são organizadas como sendo conhecimentos separados e vão sendo estocadas por ciclos, numa sequência na qual se acredita ser mais adequada, mas que não tem um raciocínio lógico porque a gente acumula esses diferentes tipos de conhecimento separados. Então a construção do novo currículo baseado em competências foi nosso norte. O passo seguinte foi pensar em como desenvolver isso na prática, pois não adiantava ter um texto do projeto inovador se continuássemos a ensinar da mesma maneira. Precisava mudar.

E como ocorreu esse processo?
A base para a mudança foram as diretrizes curriculares nacionais do curso de administração do CNE, em que no seu artigo quarto prevê as competências e habilidades que o egresso deve ter ao final do curso. Daí tiramos oito competências. Esse foi o nosso marco legal. Depois fomos para o mercado para saber quais eram as demandas exigidas desses profissionais ao sair da faculdade via processo de seleção de treinee. Para isso nossa referência foi a Cia. de Talentos. Então pensamos em montar o nosso curso tendo como norte as competências que os alunos deveriam adquirir durante o curso para ao final da formação ter o conjunto de competências exigidas pelo mercado e demandas pelo marco legal. Assim chegamos a doze competências e as dispusemos ao longo dos oito semestres numa sequência em que o NDE [Núcleo Docente Estruturante] julgou apropriada ser seguida pelo aluno nesse itinerário formativo.

Pode exemplicar como se deu esse sequenciamento?
Para se ter ideia, vou usar duas competências nos dois extremos. Numa ponta temos raciocínio lógico crítico analítico e comunicação, e na outra orientação para resultado e orientação para cliente. Seria totalmente incoerente se a gente colocasse logo nos primeiros ciclos da formação o desenvolvimento da orientação para cliente ou para resultado, que são competências em que o aluno precisa ter um pouco mais de maturidade. Então essas ficaram mais no final, e, no início do curso, ficaram as competências de comunicação e de raciocínio lógico crítico analítico, porque se o cara não conseguir se comunicar bem, não vai ser no final do curso que ele vai aprender isso. Da mesma forma acontece com o pensamento crítico, que se não for apreendido pelo aluno no começo não vai ser no final que ele vai conseguir atingir um bom desenvolvimento disso.

Mas o que motivou a adoção do mapa conceitual?
O passo seguinte foi ir atrás de uma metodologia para colocar em prática esse projeto de currículo por competência e vimos que para isso precisaríamos mudar o modelo em que o professor é apenas reprodutor de conhecimento e o aluno receptor do conteúdo transmitido. O que a gente queria então era que o aluno tivesse uma participação mais ativa, assumindo o papel principal nessa relação com o professor ao invés de mero coadjuvante na aula. Então fomos buscar uma metodologia ativa de aprendizagem, onde se encontra o mapa conceitual.

Como podemos definir essa metodologia?
Mapa conceitual vem a ser uma representação gráfica de uma cadeia de conceitos, dos mais inclusivos para os mais específicos. Incluímos o mapa conceitual como exercício obrigatório de todas as disciplinas em todos os ciclos. Mas, além de pedir para os alunos, os professores também precisam desenvolver seus próprios mapas conceituais. Cada bloco de conceito resulta em um mapa e ao final da disciplina se faz um mapa geral. A vantagem para o aluno é que ele captura tudo o que o professor falou e organiza da forma que foi compreendido e não do ponto de vista de decoreba, mas sim ele precisa desenvolver isso numa sequência lógica.

E como isso está estruturado?
No nosso PPC [Plano Pedagógico de Curso] decidimos que em cada ciclo devíamos nomear uma disciplina chave, uma disciplina integradora a qual integrasse todas as outras em baixo dela a cada ciclo. E como é que a gente amarra isso? Com o mapa conceitual. Então o mapa conceitual é feito em duas dimensões, em cada disciplina e integrando o mapa conceitual de todas as disciplinas do ciclo.

Como foi a receptividade na instituição?
Em reunião que tivemos com os alunos representantes e vice-representantes de turma ao final do primeiro ciclo tivemos um retorno positivo. Os alunos disseram que acharam as aulas muito mais interativas e interessantes, embora tivessem tido certa surpresa com o mapa conceitual, por ser uma metodologia muito nova para eles. Com os professores já fizemos duas capacitações. É o primeiro curso da Fei a implantar isso, mas a reitoria também já sinalizou uma boa aceitação.

E como fica a avaliação nesse método?
Numa consultoria que pudemos realizar com Alberto Cañas, que é assistente direto do criador do método de mapa conceitual, Joseph Novak, uma das dúvidas tiradas foi em relação à questão da avaliação. Não existe mapa 100% certo nem errado, então tínhamos essa dúvida de como avaliar. A recomendação dele foi então avaliar pelo aprendizado do aluno, ou seja, o quanto ele evoluiu no decorrer do semestre, ou da própria disciplina, desde a primeira construção do mapa até a última. Desse modo a avaliação fica mais individual. No entanto muito mais trabalhosa para os professores que são horistas. Desse modo, a recomendação é repassar a tarefa da avaliação para os próprios alunos se avaliarem entre si. É claro que para isso dar certo é preciso quebrar a barreira da conivência tácita entre eles, sugerindo que esse é um exercício fundamental para que todos evoluam: avaliar o outro para que o outro aprenda e nessa construção do conhecimento ambos progridam. Essa foi uma sacada fundamental que ainda vai ser repassada para os professores. Para isso também será preciso estabelecer alguns parâmetros para medir essa evolução.