CAPA/TECNOLOGIA/PESQUISA | Edição 199

Pesquisa mostra introdução lenta, porém consistente, da oferta de cursos em EAD e de novas plataformas de ensino; avaliação de instituições que se utilizam de recursos é positiva

por Fernanda Lima

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Gestores conferem os dados da pesquisa que investigou o uso de recursos tecnológicos na EAD

A oferta de cursos de educação a distância tem sido o grande diferencial para o crescimento da base de alunos das instituições de ensino superior. Além disso, há disposição crescente entre faculdades e universidades para introduzir tecnologias que oferecem novos modelos de educação, mais sintonizados com as demandas atuais, como o blended learning, que une ensino presencial e a distância.

Essas são algumas das informações reveladas pela pesquisa “O ensino superior e a EAD”, encomendada pelo Semesp à Toledo Associados, com patrocínio da Desire2Learn (D2L), empresa especializada em tecnologia com produtos voltados ao segmento da educação. O estudo buscou aferir se a adoção de novas tecnologias, como plataformas de ensino, melhora o processo de ensino e aprendizagem e o grau de abertura das instituições para incorporá-las. Foram ouvidos 20 gestores de IES, dez deles de instituições com oferta de EAD e dez que ainda não oferecem ou estão estudando a possibilidade de introduzir a modalidade, porém todas usuárias de alguma plataforma de aprendizagem.

Em um período de cinco anos, as IES que oferecem cursos em EAD tiveram crescimento de 37,5%, aumentando sua base de alunos de 837.431 para 1.153.640. Já as instituições que têm apenas cursos presenciais cresceram 19,8% entre 2009 e 2013, passando de 5.146.911 alunos para 6.169.324.

Além do crescimento do número de matrículas, a pesquisa ratificou também o bom desempenho do aluno de EAD, em muitos casos superior ao do estudante do curso presencial. Isso se traduziu, em algumas instituições, por notas maiores no Índice Geral de Cursos (IGC) para a modalidade a distância do que para o curso presencial, segundo Valdir José Lanza, diretor de Relações Institucionais do Semesp.

No geral, o levantamento concluiu que a adoção de novas tecnologias tem um impacto benéfico para as IES. As principais vantagens salientadas pelas instituições foram a maior facilidade para acompanhar o desempenho do aluno e o desenvolvimento de novas estratégias docentes; maior eficácia no planejamento da avaliação dos professores; melhora no desempenho do aluno, com aprendizado mais personalizado; redução de custos na área administrativa e acadêmica e redução nos índices de evasão.

Para o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, a pesquisa auxilia os gestores na decisão de implementar ou não cursos a distância. “O estudo mostra as principais dificuldades, o que dá certo e o que não dá, além de tornar tangíveis as questões mais complicadas para a implementação”, resume.

Fulvio Cristofoli, diretor da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Metodista (SP), que tem 13 mil alunos em EAD, vê convergência entre o cenário desenhado pelo levantamento e os desafios atuais de sua instituição. “Temos grande preocupação com a capacitação dos docentes para a educação a distância e em acompanhar nossos alunos nas avaliações. Juntando essas duas pontas, poderemos intervir no processo e melhorá-lo em termos de aprendizagem”, diz. De 2013 a 2015, o número de alunos matriculados em cursos EAD, incluindo as pós-graduações, cresceu 48%. Em função do credenciamento de novos polos EAD, a expectativa para os próximos dois anos é duplicar o atual número de estudantes.

Desafios

A pesquisa também revela que as instituições estão dispostas a inovar com novas tecnologias. Foi o que fez a Fundação Getulio Vargas (FGV), segundo Ana Lúcia Rossi, responsável pela coordenação de tecnologias educacionais da instituição. “Sempre procuramos inovar, mas estávamos há muito tempo com a mesma plataforma de gestão de curso. Então contratamos outra, avaliada por alunos e professores como mais amigável e clean.” Antes, os cursos a distância da FGV utilizavam diversas plataformas. Agora, o objetivo é convergir para uma só, com maior mobilidade. O projeto começou envolvendo 30 disciplinas, 30 professores e apenas 350 alunos. Em abril deste ano já eram 4.500 alunos, dos quais 2.300 em São Paulo e outros 1.175 no Rio de Janeiro. “No final de julho, em todas as oito unidades as outras plataformas serão desligadas e todos os alunos e professores já estarão usando a plataforma nova”, revela Ana Lúcia.

Das 10 instituições entrevistadas que ainda não oferecem EAD, duas aguardam aprovação do MEC, duas não pensam na possibilidade e as demais querem implementar em médio ou longo prazo. Um dos motivos de algumas IES não pensarem em oferecer a modalidade é o temor do processo de implementação. Muito disso se deve à dificuldade de chegar a um consenso internamente. Isso inclui uma avaliação inicial, discussão com gestores, implementadores e docentes. O tempo médio dessa etapa varia de três a cinco anos. O segundo passo é a aprovação do curso pelo MEC, cujo prazo, em média, é de dois a três anos. Sendo assim, o tempo total entre a avaliação inicial e a efetiva implementação pode chegar a oito anos.

Esse prazo interno tão longo se deve, entre outros fatores, à resistência de professores, aos dados de evasão de alunos nesse tipo de curso e ao custo elevado para as instituições. “Embora haja resistência dos professores e um processo lento de implementação, é possível quebrar essa resistência e mostrar ao aluno, ao professor e para a administração da IES os benefícios do uso das tecnologias”, diz Capelato. Para o dirigente do Semesp, a evasão de alunos, que chega a quase 30%, ainda é o maior gargalo para a EAD, exigindo atenção aos indicadores comuns aos alunos que se evadem, que devem ser monitorados individualmente. A infraestrutura também é uma dificuldade na implantação da EAD. Os polos precisam de computadores, acesso à internet, biblioteca física, o que nem sempre é fácil de conseguir. “A grande barreira que temos ainda no Brasil é a banda larga”, avalia Valdir José Lanza, diretor de Relações Institucionais do Semesp. Outro problema é a falta de oferta, segundo Marcos Simonetti, da Toledo & Associados. “Não falta demanda nos cursos EAD, o que falta é diversidade de oferta que contemple vários perfis. Muitas vezes, o aluno quer fazer, mas não encontra a modalidade de que precisa.”

Perfil do aluno de EAD

A faixa etária majoritária dos alunos de EAD é de 25 a 39 anos, em contraste com a do presencial, de 18 a 24. Ou seja, o público de EAD e cursos presenciais é diferente. Na EAD, a maioria dos estudantes já está no mercado de trabalho e, em muitos casos, constatou que precisa aprimorar a formação para ter melhores oportunidades profissionais. Já os alunos dos cursos presenciais costumam entrar na faculdade logo após o ensino médio. Assim, constata-se que, no geral, os cursos de EAD não concorrem com os presenciais.

Entre as IES entrevistadas, houve consenso de que a EAD é mais adequada para a área de humanas, por possibilitar que o aluno estude sozinho em cursos em que predomina a leitura, além de demandar menor investimento em polos, pois são cursos que exigem menos laboratórios. No Brasil, os cursos de EAD mais procurados na área de humanas são pedagogia, administração, serviço social e recursos humanos. Contudo, a pesquisa também revela que as IES estão tentando se adequar às áreas de conhecimento. Já há oferta nas áreas de exatas e de saúde.

Metade das entrevistadas oferece cursos de exatas. A ausência de laboratório nos polos é uma das causas alegadas por aquelas sem cursos na área. Já na saúde, apenas uma IES entre as pesquisadas oferece EAD para os cursos de enfermagem e educação física.

As plataformas mais utilizadas pelas instituições são o Moodle, o Blackboard e o Brightspace, nesta ordem. Para Betina von Staa, diretora de desenvolvimento de negócios para a América Latina da D2L, fabricante do Brightspace, a pesquisa é um interessante retrato do momento atual. “É bacana ver que as instituições já investem, têm tecnologia e sabem para que ela serve. Fica claro que existe aquela sensação de que dá para fazer e realizar mais. Compartilhar esse tipo de resultado faz todo mundo pensar que dá para ir mais longe, motivar-se e tomar atitudes dentro da instituição para promover o uso da tecnologia”, diz Betina.