O envolvimento cada vez mais crescente do terceiro setor – ou sociedade civil organizada – na responsabilidade educacional do país impõe reflexões acerca da sua participação

Maria Cecília Medeiros de Farias Kother
A educação é, sem dúvida, considerada o mais importante e o mais amplo processo que, pela sua transversalidade, permeia espaços sui generis na vida das pessoas e das sociedades. No seu aspecto formal, enquanto instrução e formação interage com todas as áreas do conhecimento e, no modo informal de ser, atinge o campo da formação para o trabalho e a vida, obtendo guarida no Primeiro, Segundo e Terceiro setores da sociedade.A expansão do processo educacional como suporte de formação e de desenvolvimento das pessoas é objeto do Primeiro Setor (governo), a quem cabe, conforme a Constituição Federal, a responsabilidade da sua implantação e da respectiva implementação em todo o território nacional.Essa visão formativa e geradora de desenvolvimento é, hoje, também, compreendida pelo Segundo Setor (mercado), cujas empresas estão instalando processos de estudos em cursos de formação corporativa voltados aos seus recursos humanos. As empresas perceberam a defasagem entre as suas necessidades e os recursos humanos que saem das universidades, em termos de quantidade e especificidade, e passaram a apostar na educação.

O Terceiro Setor (sociedade civil organizada), por sua vez, também tem no processo educacional a base forte das suas ações. Nesse enfoque, é necessário considerar que o atendimento das necessidades da sua clientela está aquém do nível para alcançar o mínimo de educação que propicie às pessoas trabalho e consequente qualidade de vida.

O Terceiro Setor tem na educação o suporte primeiro das suas ações, quando trabalha na recuperação e preservação da autoestima das pessoas. Por isso, e em consequência da defasagem socioeconômica da população que ele atende, as áreas de formação e de atendimento das famílias e do cuidado com as crianças e com a profissionalização dos jovens, sempre como processos educativos, reforçam suas ações.

O cenário da educação não só no Brasil, mas em inúmeros países, encontrou respaldo nesses três setores. Hoje, com grande ênfase pela sociedade civil organizada, o Terceiro Setor, com posição adquirida e respeitada pelo que fez e pelo que está fazendo, descobriu o que lhe é possível realizar no campo da educação, fazendo dela uma das suas bandeiras.

O Terceiro Setor, pela sua dinamicidade e transparência, encontrou no processo de captação de recursos o instrumento necessário à manutenção e permanência do seu trabalho. Nessa dimensão, é sempre bom lembrar o pensamento de Heinz von Foerster, que diz: “o problema é compreender o que é compreender”. Tal reflexão se adapta ao trabalho desenvolvido pelas organizações sociais (fundações, associações, ONGs) nas comunidades que já compreenderam o valor da educação, pois o contrário, isto é, “o não compreender”, seria o desprezo, o que não se coaduna com a filosofia do Terceiro Setor.

Portanto, a compreensão da necessidade de investimentos na busca da qualidade da educação, em todas as suas formas e níveis, é a meta a ser alcançada, pois ainda não foi atingido o êxito desejado pelo seu primeiro coordenador e responsável, o Primeiro Setor.

Educar é um processo complexo que traz em si o valor da interface professor/aluno, que alia ao processo o caráter afetivo que lhe é indispensável. A educação, por ser um processo de interação no qual o agir e o reagir entre quem ensina e quem aprende, é a forma que imprime a magia do aprender. Quem ensina aprende, mas quem aprende também ensina. Essa bipolaridade do processo cria um clima de respeito, de admiração, de envolvimento e de cumplicidade necessário à aprendizagem.

A sociedade já tem clara a posição didática dos três setores que a compõem, mas que não a dividem, pois nessa imbricação da sociedade política, da sociedade empresarial e da sociedade civil persiste a consciência de que é necessário e intransferível o trabalho na busca do melhor para a população. Nessa dimensão, e sob a mesma bandeira chamada educação, os três setores são solidários, pensando e atuando na busca de resultados que até alguns anos atrás corria exclusivamente por conta do Primeiro Setor.

É necessário frisar que o Terceiro Setor está se consolidando e abrindo espaços no processo da educação e, nesse sentido, com a realização do 6o Encontro Paulista de Fundações, realizado no dia 25 de agosto, objetiva ampliar a informação para o grande público sobre a atuação desse setor na área educacional, especialmente, por meio da realização de parcerias públicas e privadas.

Compreender a educação também é um processo que permite desdobrar todos os meandros da sua complexidade, gerando conhecimentos e métodos para desempenhá-la com sucesso.

Maria Cecília Medeiros de Farias Kother é diretora do Instituto MC Educação Social e presidente honorária da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf)