Instituições apostam em cursos de formação e programas especiais para compor um corpo docente mais estável e qualificado e, com isso, melhorar a qualidade do ensino


por Juliana Duarte

A unidade de Lorena do Unisal recebeu mais de 470 inscritos para processo seletivo de curso de capacitação com bolsa e possibilidade de contratação após a conculsão

 

Investimentos em infraestrutura costumam ser uma das principais preocupações de instituições brasileiras, já que além de necessário, um campus bem equipado costuma ser o cartão de visita para atrair alunos. Porém, ter ótimos profissionais também é fundamental para garantir a qualidade de ensino e formar alunos prontos para encarar o mercado. Assim, selecionar bons professores e mantê-los ligados ao corpo docente frequentemente é um desafio para a gestão acadêmica.

Uma das saídas para resolver a falta de professores com boa experiência são cursos oferecidos pelas próprias instituições de ensino, que captam novos mestres com o perfil desejado e treinam os acadêmicos já contratados. “A preparação continuada é uma excelente solução. Todos os gestores deveriam considerar a importância de trazer experiências científicas para o ponto de vista pedagógico”, comenta a assessora pedagógica Lea Anastasiou.

Além de possibilitar a melhoria da qualidade de ensino superior, realizar cursos de aperfeiçoamento auxilia a descoberta de novos mestres talentosos que, eventualmente, possam vir a fazer parte do quadro de funcionários e, dessa maneira, valorizar ainda mais o quadro docente da instituição. Foi esse o objetivo da unidade de Lorena do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), ao criar um curso voltado especialmente para formação de professores universitários. O projeto faz parte do plano de crescimento da instituição, que prevê o aumento do número de alunos e a contratação de 60 professores. “Contrataremos dez novos professores já no primeiro semestre de 2013”, afirma o diretor de operações do Unisal, Fábio José Garcia dos Reis.

No total, foram abertas 25 vagas nas áreas de administração, direito, ciências contábeis, engenharia e matemática. O processo de seleção também incluiu análise de currículo, teste de língua portuguesa e entrevista. De acordo com Fábio Reis, a instituição recebeu 470 inscrições de professores formados nas mais renomadas instituições de ensino do país e do exterior.

Durante o curso, os professores vão passar por uma avaliação continuada, que resultará em contratação. A ideia é aproveitar a experiência desses professores e qualificá-los ainda mais para atuar nas classes de ensino superior nas quais a instituição tem carência de bons profissionais.

Experiência interna
Uma outra iniciativa para a qualificação dos professores universitários acontece no Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), que criou o curso de Didática do Ensino Superior. Inicialmente, o tema era abordado em uma disciplina da pós-graduação da instituição. Só que o corpo gestor percebeu a existência de demanda interna e externa pelo curso, de professores que buscavam atualização ou complementação de estudos. Então, a instituição resolveu começar a ofertar uma extensão universitária.

Segundo o coordenador do núcleo acadêmico do Unimonte, Edson Florentino José, a meta do programa, que tem duração de sete dias, é oferecer uma preparação didática no ciclo que engloba ensino e avaliação. “Para atender a esse propósito, o currículo abrange temas como comportamento humano em grupo, planejamento de ensino, comunicação em sala de aula e processo de avaliação escolar”, diz.

Assim como o curso oferecido pela Unisal, a modalidade também é aberta a quem deseja complementar o currículo e há possibilidade de captação de talentos que aparecerem. “Qualquer profissional pode participar, desde que tenha uma especialização lato sensu”, ressalta Edson.

Na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), os cursos para capacitação continuada completaram dez anos em 2012. “A ideia surgiu a partir de uma avaliação institucional que mostrou a necessidade da formação didático-pedagógica para os professores”, comenta a pró-reitora Cássia Ferri.

Cada etapa tem duração de uma semana e as atividades são divididas em três turnos – matutino, vespertino e noturno. São cerca de 90 atividades por semestre (conferências, palestras e oficinas) de diferentes temáticas, como estratégias de ensino, avaliação e planejamento. A programação é elaborada pela Gerência de Ensino e Avaliação e pode ser acessada pela internet. “Estamos satisfeitos com o retorno que recebemos por parte dos professores. Os bons resultados podem ser comprovados tanto nas avaliações internas quanto nas externas, como o Enade”, comemora a pró-reitora.

Receitas de incentivo
Contudo, qualquer que seja o plano de capacitação, para manter bons profissionais, incentivá-los ao aprendizado é uma atitude primordial. Por isso a Faculdade de Tecnologia BandTec costuma enviar alguns de seus professores a congressos e eventos, como o Scratch Day, conferência sobre educação organizada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.

O investimento em cursos de capacitação também é frequente. No segundo semestre de 2012, a instituição passou a disponibilizar duas novas opções: o Projeto H, programa de formação humanística e pedagógica baseado na construção de valores profissionais e éticos, e o projeto Capacitação Docente na Língua Inglesa, que estimula o exercício do idioma (os dois são destinados apenas a professores da faculdade). “Os programas nasceram com a percepção de que essas habilidades valorizariam o corpo docente, os currículos individuais e, por consequência, enriquecem a nossa oferta de educação tecnológica”, afirma o coordenador-geral da BandTec, Maurício Pimentel. O objetivo, segundo ele, é oferecer ensino de qualidade, integração entre os professores e desenvolvimento profissional.

No ensino superior público, uma iniciativa que se destaca é o curso de pedagogia universitária da USP, voltado para professores e coordenadores da instituição. Em sintonia com as transformações sociais e com os reflexos que elas podem gerar na universidade, o curso propõe ações centradas nas discussões sobre os atuais desafios de ensinar (são realizados workshops e encontros ao longo do ano). “Os momentos-chave desta metodologia são a mobilização, a construção e a elaboração das sínteses do conhecimento”, comenta a assessora pedagógica Lea Anastasiou, que atuou como uma das professoras da modalidade.

Virtual
Essa filosofia também faz parte da rotina acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Desde 2010, a pró-reitoria de Recursos Humanos da instituição, em parceria com o núcleo de educação e desenvolvimento promove o Programa de integração, formação e desenvolvimento: Transformar. O intuito é motivar a participação dos docentes em ações de educação continuada. Para isso, a UFSM mobilizou alguns projetos para integrar a iniciativa, como o curso de capacitação sobre sistema de coleta de dados da Capes, Currículo Lattes e grupo de estudos sistematizados sobre a legislação educacional brasileira, entre outros. No entanto o programa é aberto apenas à participação de professores e técnico-administrativos da própria UFSM.

De acordo com a pró-reitora de Recursos Humanos da UFSM, Vania Estivalete, os resultados têm sido surpreendentes, o que motivou a universidade a expandir o programa para a modalidade virtual e buscar atingir um alcance maior ainda da formação.

É justamente o meio virtual o veículo utilizado pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) para levar a formação continuada ao maior número de docentes da instituição. Mas os cursos do Programa de Formação Continuada (Profoco) também podem ser realizados de forma presencial. “Assim, todos podem participar e construir um bom currículo também no próprio ambiente de trabalho”, diz o pró-reitor de ensino da Unisul, Fabiano Zoldan.

Além disso, os módulos são organizados de maneira que cada professor planeje a sua formação a partir dos conteúdos oferecidos. Ao completar determinado circuito, é possível solicitar a certificação gradual de acordo com o itinerário percorrido. Fabiano Zoldan explica que essa metodologia foi elaborada para facilitar a rotina dos docentes. “Isso estimulou muito a participação nessas atividades”, confirma.

 

De alunos a professores
Investir no talento de ex-alunos também pode aparecer como uma boa alternativa para preencher o quadro docente das instituições de ensino. O Unimonte, por exemplo, desenvolveu o Programa de Estágio Docente (PED), que oferece a seus pós-graduandos a oportunidade de aprender a metodologia utilizada no ensino acadêmico, sempre com o acompanhamento de professores da instituição. O aluno faz seis meses de estágio e, dependendo de sua atuação, pode ser contratado. “Ensinar é arte, requer técnica. Todos saem ganhando com programas deste tipo. O professor se sente motivado a cada novo desafio, os alunos veem no mestre alguém que se preocupa com o desenvolvimento deles, a instituição oferece um ensino de qualidade e, por fim, a sociedade passa a receber profissionais mais preparados”, encerra o coordenador acadêmico do Unimonte, Edson Florentino José.