Fonte: DCI

São Paulo – A demanda reprimida por cursos técnicos e profissionalizantes entre as classes D e E é um dos aspectos que devem mobilizar holdings de educação – incluindo as ‘gigantes’ recém-criadas após movimentos de consolidação concluídos nesta semana.

Um exemplo é a holding MoveEdu, formada após a aquisição, pelo Grupo Prepara, das redes de ensino profissionalizante Microlins, SOS e People. Antes disso o grupo já possuía quatro bandeiras – entre elas a Prepara Cursos, que atende um público com renda mensal entre R$ 700 e R$ 1.200. “Vislumbramos a possibilidade de acessar um público ainda menor que o nosso atual”, afirmou ao DCI o presidente do grupo, Rogério Gabriel.

A diversificação deve ocorrer através da Microlins e da SOS. Com faturamentos de R$ 210 milhões e R$ 40 milhões, respectivamente, as marcas usarão o gatilho de entrada no mercado de trabalho para jovens (no caso da Microlins) e adultos (SOS). Ainda que haja o desafio de conciliar o novo público com o existente, possibilidades já são avaliadas pelo executivo da MoveEdu. “Devemos trabalhar dentro das redes com condições diferentes. Dá para, fazendo uma analogia, usar capacidade ociosa e oferecer cursos mais baratos no modelo de ‘corujões’, por exemplo”, conjectura Gabriel. Tal expansão deverá ser suportada por novas ofertas de microfranquias.

A aplicação deste modelo será um grande estímulo para a ampliação da oferta, avalia o diretor-executivo do Plano CDE, Maurício de Almeida Prado. “Bairros periféricos ainda tem baixa oferta de cursos profissionalizantes. Com o crescimento das microfranquias haverá uma grande oportunidade”, avalia.

De acordo com Prado, a aproximação geográfica será importante porque custos de acesso transporte são considerados um entrave para a realização de cursos extracurriculares na opinião de 34% dos pais de alunos do Ensino Médio. Apenas as dificuldades financeiras (reportadas por 64%) afastam mais jovens das escolas profissionalizantes.

Segundo a Plano CDE, do contingente que cursa Ensino Médio atualmente, apenas 35% realizam cursos extracurriculares; destes, somente 15% são pagos. “Entre os gratuitos há demanda grande por cultura e esporte. É positivo, mas os pais querem coisas que permitam ajuda na renda da família”, prossegue Prado.

Entre os cursos extracurriculares de maior interesse estão os de informática – para 71% dos pais -, seguidos de aulas de aulas de reforço escolar (55%) e preparação profissionais para colocação no mercado (também 55%). No caso de cursos de idiomas, o interesse é maior: 77% consideram a opção muito importante.

Protagonista de outra fusão recente no setor educacional – a compra da rede de ensino de idiomas NumberOne -, o empresário, Carlos Wizard afirma que a aquisição de redes que atendam as classes C, D e E “certamente está no radar” da recém-criada holding Wiser Educação, da qual é sócio; o grupo ainda não tem bandeiras no portfólio que atendam tal público diretamente, mas o quadro pode mudar já que duas novas aquisições estão programadas para 2017. “Na medida que analisarmos marcas e empresas é possível que encontremos alguma que tenha formato que atenda mais as demais classes”, vê Wizard.

Prado, da Plano CDE, ainda prevê um ‘turnaround’ de outras educacionais que ainda não atendem a vertical – ou que o fazem através de braços filantrópicos. “Existe dinheiro e fundos dispostos a investir”, avalia. Um exemplo da última opção é a holding de ensino básico e técnico Eduinvest, que oferece ensino profissionalizante gratuito para jovens através do Instituto ProA.

Vácuo

Ainda que prevista para longo prazo, parcerias com o Governo também são uma opção estudada pela MoveEdu, visto que a reforma educacional realizada pelo governo pretende ofertar ensino técnico durante os três anos de ensino médio. “É uma grande oportunidade porque o governo sozinho não vão conseguir fazer essa entrega. Dá para pensar em algo como foi o Fies“, pontua Gabriel.

Henrique Julião