Plenária do FNESP

20º FNESP foi realizado pelo Semesp nos últimos dias 27 e 28 de setembro e discutiu o impacto da 4ª Revolução Industrial no ensino superior

Não precisamos dizer que participar de um Fórum como o FNESP é sempre enriquecedor, pois temos a oportunidade de aprender sobre Educação no Ensino Superior com quem fez e faz do mundo da educação um lugar dinâmico e rico em experiências significativas.

Neste ano, o tema foi inquietante, pois pensar uma 4ª Revolução Industrial é algo que, além de mexer com nossa imaginação, mexe também com toda uma estrutura social global. É um novo mundo! Lugar em que a educação é essencial para o futuro que é projetado.

No início, acreditávamos que o Fórum trataria de pura e alta tecnologia para a Educação, mas, quando chegamos, tivemos uma surpresa! O FNESP apresentou por meio de seus palestrantes um mundo que precisa valorizar ainda mais o que é do SER humano. Repensar nossa espécie e seu agir em sociedade.

As palestras demonstraram uma preocupação clara com a AI – Inteligência Artificial, algo que já está em nossas vidas há algum tempo, e, só não a percebemos, porque passou a fazer parte das nossas atividades e do nosso dia a dia aos poucos, mas de maneira dinâmica. Nossos smartphones, por exemplo. Quantas atividades que antes necessitavam das capacidades humanas para serem realizadas, hoje, acontecem “sozinhas”? A dinâmica é tanta que não nos damos conta dessa revolução que já é presente!

O FNESP provocou-nos, em sua 20º edição, a possibilidade de pensar como nós, professores e faculdades, vamos nos preparar para nossos alunos.

Já faz um bom tempo que ouvimos falar em protagonismo, criatividade, colaboração e sustentabilidade. Mas até pouco tempo ainda estávamos em um ponto raso e linear. Pensávamos um novo modelo, porém associado a uma antiga estrutura diretamente ligada a ferramentas educacionais.

Aqueles que ainda ousam mudar e tentar algo novo sofrem com o discurso enrijecido de uma tradição que já não representa a educação e, com certa dificuldade, realizam ações quase que isoladas em suas disciplinas.

As mudanças que já são realidade exigem a ruptura das barreiras do ensino que ainda é disciplinar. Devemos derrubar fronteiras deste modelo que segrega o pensamento.

O mundo, de maneira geral, é representado pelo trabalho humano, por aquilo que somos capazes de fazer, mas, até que ponto elevamos as nossas capacidades? Nós realmente nos desafiamos? Viver por si só já nos coloca em situações de adversidade em que somos obrigados a buscar soluções. Por que não permitir que outros tenham acesso às soluções que encontramos e de forma rápida? A AI – Inteligência Artificial é parte de toda essa revolução que remodela a sociedade e as relações humanas.

Uma condição demonstrada quase que por unanimidade pelos palestrantes do 20º FNESP foi a necessidade de se pensar e encontrar soluções para as desigualdades sociais, sustentabilidade, miséria, distribuição de alimentos, melhoria de qualidade de vida, entre outros aspectos que são parte da dignidade humana.

Seria muito difícil resumir em poucas palavras tantas ideias reunidas em um fórum como o FNESP, mas podemos arriscar apresentar alguns pontos da “tempestade de ideias e desafios” que nos foram apresentados.

 José Pastore no FNESP

O professor José Pastore, pesquisador e sociólogo da FEA e da FIA/USP na abertura do 20º FNESP

Na palestra do Prof. Dr. José Pastore, com o tema “Como será o futuro do trabalho?”  ficou claro que “pensar” é o que devemos ensinar a nossos alunos, para estarem abertos ao futuro que se aproxima. O mundo novo já torna real o que para muitos era só ficção científica e nesse mundo convivemos com a biologia sintética, com a realidade aumentada e com robôs que aprendem enquanto trabalham.

Trabalhos rotineiros serão substituídos por trabalhos intelectuais e as máquinas, em alta velocidade, resolverão nossos problemas. Mas a boa notícia é de que o cérebro humano não será substituído, pois ainda há emergência em novos trabalhos e novas profissões que deverão atender ao novo cenário  que se impõe, com uma população mais velha que impacta diretamente na economia. O trabalho que prioriza a habilidade social não pode ser automatizável.  Tudo isso desafia a educação, o ensino e a aprendizagem, pois o sucesso desse novo mundo dependerá da nossa capacidade de pensar. E ressalta: pensar para criar, pensar para refletir, pensar para criticar.

Thomas Philbeck no FNESP

Diretor de Estudos de Ciência e Tecnologia do Fórum Econômico Mundial, Thomas Philbeck

Thomas Philbeck, do Fórum Mundial Econômico, abordou o tema “A educação na nova era”. No seu discurso, ele deixou muito claro a importância da formação de um educador que reflete sobre as questões da inovação, mas para ajudar a diminuir as desigualdades sociais em um pensamento colaborativo e cidadão. As mudanças pelas quais o mundo está passando vêm orientadas pelas tecnologias da quarta revolução industrial. Isso impacta diretamente na sociedade que deve reconhecer as interconexões de sistemas de variadas áreas e estruturas, o que inclui o futuro do trabalho, do conhecimento, das instituições de ensino, da economia e da educação, desafios a serem enfrentados pelo Ensino Superior.

Rodolfo Bertolini, CEO do Centro Universitário Celso Lisboa, do Rio de Janeiro, falou-nos da importância de um time de inovação na instituição, engajado, disposto, que aprende com seus erros e acertos e que entende de educação. A escola de hoje precisa desenvolver nos estudantes as habilidades do futuro: autonomia, criatividade, pensamento crítico.

Stefanie Lindquist, vice-diretora da Arizona State University, ressaltou a importância de  liderança de uma IES engajada para inovar. A universidade deve estar preparada para oferecer acesso a um conhecimento plural, para que possa atuar na solução de problemas globais e ter êxito em suas atividades. Para isso, ela enfatiza que o ensino deve promover a transdisciplinaridade em uma educação em que o professor tenha espaço para preparar seu aluno de forma personalizada, com currículo elaborado em parcerias com organizações e corporações. Para que o ensino esteja preparado para a 4º Revolução Industrial, a liderança da IES precisa aceitar riscos; apoiar a colaboração entre unidades; eliminar a rigidez burocrática; criar, não só administrar; focar incansavelmente suas metas e sempre reiterar a missão da IES.

Liz McMillen no FNESP

A editora do The Chronicle of Higher Education, Liz McMillen, falou sobre os novos paradigmas da educação superior

Liz McMillen , editora da The Chronicle of Higher Education, trouxe o tema “A crise do diploma e as profissões do futuro”. Liz apresentou uma série de iniciativas que estão sendo realizadas com a intenção de viabilizar a formação universitária. Falou da importância do acompanhamento do aluno no seu percurso formativo. Fornecer todo o apoio de que o aluno precisa para alcançar seu objetivo nesse mundo novo, fruto da 4ª Revolução Industrial. Terminou sua palestra com a seguinte pergunta. “Será que as faculdades conseguem acompanhar o ritmo da mudança?”.

Rodrigo Capelato, Diretor Executivo do SEMESP, apresentou-nos o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2018, e a surpresa veio com a apresentação das profissões do futuro, uma vez que a revolução 4.0, que modifica nosso relacionamento com o mundo a nossa volta, deve eliminar muitas das profissões que hoje conhecemos, bem como o perfil dos cursos universitários.

Joanna Bryson no FNESP

Joanna Bryson, pesquisadora transdisciplinar da Bath University, defendeu que a IA não substitui a inteligência humana

Joanna Bryson – Pesquisadora Transdisciplinar da Bath University, foi uma das palestrantes que tratou do tema “Inteligência Artificial aliada à Inovação do Ensino Superior – Ferramentas capazes de potencializar e transformar a educação superior”. O que parece óbvio às vezes escapa aos nossos olhos. A professora Bryson, afirmou: “a inteligência artificial é a nossa inteligência, ou seja, nela vamos encontrar nossos erros e acertos” e também ressaltou a importância do uso da Inteligência Artificial para contribuir com a solução rápida de problemas sociais e ambientais. E, segundo ela, não é a Inteligência Artificial que está dominando o mundo, é a Inteligência Humana.

Também palestraram sobre o tema Guilherme Pereira – Diretor de Inovação da FIAP e Maurício Garcia – Vice-presidente de Inovação e Ensino da Adtalem Brasil, que nos provocaram a pensar sobre aonde podemos chegar e que os limites e barreiras dos nossos sonhos, muitas vezes, somos nós mesmos.

Pedro Dória no FNESP

Pedro Dória apresentou um mundo novo em que as profissões que não exigem criatividade já não terão mais espaço

A eficácia da comunicação digital para a nova geração foi tema das palestras do jornalista Pedro Dória, da CBN/ O Globo/ Estadão, e do escritor Sidinei Oliveira – Expert em Conflitos de Gerações. Pedro Dória fez um passeio pela história e apresentou as diversas maneiras como as revoluções contribuíram com a mudança da nossa forma de ser, sentir e agir. Em perspectiva, apresentou um mundo novo em que as profissões que não exigem criatividade já não terão mais espaço. Sidnei de Oliveira, por outro lado, mostrou-nos a preocupação em não pensarmos as tecnologias e a inteligência artificial sem ensinarmos e aprendermos a questionar os resultados que são fruto de uma sociedade que tem pressa pela informação e aceita com facilidade o que é apresentado sem investigar outras possibilidades.

Finalizaram as sessões de palestras Mônica Iozzi, atriz e apresentadora que mediou um debate com Tábata Amaral, cientista política, Maria Beatriz Balena Duarte, Pró-reitora acadêmica da PUC Paraná, e a aluna Luisa Camerini, que participou do 1º Concurso Hacklab Fnesp.

O debate girou em torno das desigualdades sociais no acesso a uma educação de qualidade, no declínio do ensino básico da escola pública nos últimos anos e de como ela não garante a aprendizagem do estudante. Tábata ressaltou a necessidade de se falar sobre as desigualdades antes de se falar sobre um futuro desenvolvido e que o Ensino Superior de hoje reflete as deficiências do Ensino Básico.

Beatriz confirmou que as instituições de ensino vêm-se adaptando ao modelo 4.0 e lembrou que as pessoas aprendem de modo diferente, por isso o currículo precisa de adaptação. A autonomia do estudante, para ser desenvolvida, precisa ser provocada. O estudante precisa forçar sua autodescoberta em horizontes mais amplos, emocionais e vocacionais. As faculdades não vão sobreviver se não acompanharem o caminho que o mundo naturalmente vai seguir.

Luísa, no seu ponto de vista de aluna, falou, principalmente, sobre a carência de tecnologia nas escolas básicas, o que dificulta a interação na universidade dos colegas advindos de escolas mais pobres com os das melhores escolas, nos trabalhos colaborativos.

Equipe vencedora do HackLab

Equipe vencedora do HackLab

Por fim, o pitch dos estudantes que participaram do 1º Hacklab Fnesp. Alunos de diferentes instituições do Brasil envolveram-se em uma maratona de estudos e desenvolvimento de projetos empreendedores, usando a Inteligência Artificial, como soluções criativas para o Ensino Superior.

Essa maratona pôs à prova as habilidades de nossos estudantes quanto ao trabalho colaborativo, à comunicação, à criatividade e exigiu deles resistência, compromisso, empatia e solidariedade.

Parabéns ao 20º Fnesp!

*Profª. Mª. Ana Valéria Sampaio de Almeida Reis

(ENIAC – Guarulhos-SP)

Prof. Me. Diego Amaro de Almeida

(UNISAL – Lorena-SP)