Fábio José Garcia dos Reis

Há mudanças significativas no ensino superior. A afirmação não é uma novidade, o problema é que de modo geral, os gestores de IES não preparam a instituição para as mudanças, portanto, correm o risco de torná-las obsoletas.

O sucesso de uma IES pode ser definido pela sua capacidade de ser sustentável financeiramente, de ser bem administrada e, especialmente, por agregar valor na formação e na aprendizagem dos estudantes, via inovação. Atualmente, as mudanças significativas ocorrem principalmente na dimensão acadêmica, como por exemplo, através das novas formas de utilização da tecnologia e das novas formas de organização do processo de ensino e aprendizagem.

Uma IES pode inovar na área acadêmica através do currículo, da interdisciplinaridade, do foco na aprendizagem e nas metodologias ativas, da cultura empreendedora, do fomento às startups, do uso da tecnologia e dos Fab Labs, conceito que nasceu em MIT, criado por Neil Gershenfild, em 2001.

Os gestores das IES, cada vez mais, manifestam o interesse em conhecer o significado, a funcionalidade e os custos de um Fab Labs. Alguns querem implementar esses laboratórios em suas instituições, mas desconhecem o seu significado.

Antes de pensar em um Fab Lab, a IES precisa ter um proposta de ensino e aprendizagem pautada no modelo “hands on”, em que os estudantes aprendem fazendo, pois há um claro vínculo entre teoria e prática.

Uma mudança que instigue a inovação não deve começar pelo laboratório, mas sim, pelo projeto pedagógico institucional e pelos professores. Quando penso em novas formas de aprendizagem e de infraestrutura, logo penso na proposta pedagógica da IES e no perfil dos professores.

Não há outra forma da IES manter-se sintonizada com as mudanças do século XXI se não tiver uma proposta consiste de mudança, ou seja, é preciso elaborar uma carta de navegação, que defina a trajetória de inovação.

O Fab Lab é uma boa solução para intensificar a aprendizagem significativa e o modelo “hands on”, portanto, de inovar. Em uma IES, o Fab Lab nasce com a demanda por uma concepção de ensino que privilegie o trabalho cooperativo, o desenvolvimento de competências, o aprender fazendo, a experiência, a capacidade de resolver problemas, a vontade de tirar do papel as ideias que estão na cabeça.

O Fab Lab é um espaço em que uma pessoa pode fazer quase tudo que quer, é um espaço de fabricação digital transdisciplinar. Engana-se quem pensa que esses laboratórios atendem apenas pessoas da área de engenharia ou computação. As áreas de humanas também podem se beneficiar.

Há três tipos de Fab Labs, os acadêmicos, que estão vinculados as instituições de ensino, os profissionais que focam na fabricação de produtos de interesse das industrias e de outros setores da sociedade e os públicos, abertos a comunidade.

O investimento em um Fab Lab pode variar de R$ 150.000.00 a R$ 300.000.00, dependendo do tipo e da quantidade de máquinas que a IES optar. É preciso investir, por exemplo, em cortadora laser, fresadoras, impressora 3D, ferramentas eletrônicas, computadores e softwares. Um laboratório supõe uma estrutura de pessoas. Há o Fab Manager, o Fab Project e os Gurus.

Ao investir em um Fab Lab, a IES precisa assumir os custos de manutenção e de pessoal. Há possibilidades de oferta de workshops, prestação de serviço e cooperação com o setor industrial, para eventuais captação de recursos. Os produtos que são feitos nos laboratórios também podem ganhar uma dimensão de serviço e negócio. Uma outra característica do Fab Lab é a abertura para o acesso à comunidade, uma vez por semana.

Uma IES pode optar por um maker space, antes de investir em um Fab Lab, especialmente, se a IES que não possui cultura do ensino “hands on”. Pode-se criar a cultura do Fab Lab com a oferta de espaços em que os estudantes podem fazer e experimentar a construção de diferentes projetos.

No Brasil, são 5 Fab Labs acadêmicos registrados no Fab Foundation (www.fabfoundation.org), que é uma comunidade global de laboratórios, constituída em 2009. A USP, o INSPER, a Faculdade de Engenharia de Sorocaba (FACEN), o SENAI do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Mato Grosso possuem Fab Labs registrados. No Brasil há 15 Fab Labs, de diferentes tipos. Provavelmente, há outros laboratórios, não registrados. No mundo há 674 Fab Labs, em 87 países. Para uma referência de comparação, na Argentina, no México e no Peru são 8, no Chile, são 5.

O crescente interesse pelo Fab Lab justifica-se pela mudança do modelo acadêmico das instituições de ensino, que investem nos processos de inovação acadêmica. O vínculo entre aprendizagem ativa e Fab Lab, justifica o interesse.

O SEMESP quer estimular os gestores de IES a implementarem processos de inovação. Em um ambiente de alta competitividade, não basta uma IES ser bem administrada. Bons modelos de governança e de gestão são pilares de sustentabilidade de qualquer instituição, mas o sucesso de uma IES está na capacidade de construção de um modelo acadêmico inovador.

Os Fab Labs devem ser instituídos em um momento de amadurecimento acadêmico ou quando uma IES tem presente em sua concepção curricular, a aprendizagem ativa. O INSPER é um exemplo, pois não há uma fragmentação das disciplinas. Há uma opção pelo ensino baseado em projetos. Os estudantes utilizam o Fab Lab para desenvolver seus projetos.

O SEMESP faz o convite para os gestores conheçam o mundo da inovação. A ousadia é necessária, em um ambiente acadêmico demasiadamente convencional.

Os laboratórios de fabricação representam a concretização de um modelo de ensino e aprendizagem, em que o estudante, de fato, aprende fazendo. A teoria é aprendida com o desenvolvimento de um projeto.

O SEMESP irá conectar pessoas e empresas inovadoras, com os gestores de IES.

Faço uma sugestão de leitura: “Fab Lab: a vanguarda da nova revolução industrial”, de Fabien Eychenne e Heloisa Neves.